terça-feira, 26 de março de 2013

Fragilidades entre o Eu, o Tu e o Nós

 

     
        Hoje eu acordei com uma vontade louca de não sentir, de me afastar de tudo que me atrasa. Estou cansado de tanta hipocrisia propagada. As pessoas estão cada vez desinteressantes.
      Estou cansado de ouvir Dona Cleuza dizer que só Jesus Salva, que a moça do 107 troca mais de homem do que de roupa e o rapaz do 202 se veste como um gay.
         Das caras de nojo das pessoas ao verem aquele mendigo dormindo na porta do meu prédio.
Estou cansado de lidar com a capacidade de desprezo das pessoas, de se sentirem superiores quando se vestem melhor e de propagarem mudanças em prol de seu gozo pessoal.
E o que mais me machuca é perceber que essas pessoas se encontram em mim. Eu já acreditei que Jesus salva, estranhei o comportamento da moça do 107 e as roupas do rapaz do 202. Eu senti nojo dos mendigos, desprezei, já me senti superior e quando tive poder pensei no meu também.
         A fronteira entre o eu, o tu  e o nós é bem mais frágil do que se pensa. A sociedade esta em nós e nós pertencemos a ela, e por mais que nos isolamos ela continua em nós, e por mais que sejamos excluídos continuamos a pertencer.
      Ao se pensar em mudanças sociais é preciso primeiramente acessar os conteúdos individuais e  descobrir neles os resquícios que precisam ser lapidados. Bem falamos e nos indignamos com determinadas situações,  jogamos para o outro e esquecemos que o outro esta em nós.
         Eu sou a Senhora, eu sou a moça, eu sou o rapaz, eu sou o mendigo... Eu sou a vítima, eu sou o vilão, eu sou o algoz... Eu sou aquele que aponta, eu sou o apontado, eu sou o que ri... Eu sou eu, eu sou você e eu sou nós!
        A mudança que projeto no outro na verdade é a mudança que meu eu carece e é minha capacidade de mobilização que a tornará possível ou não e essa escolha meus caros leitores, é só minha...

(Enildo Duarte)

Ego versus Ego



Na insatisfação da não concretização dos meus desejos
Experimento a amargura dos meus medos, dos meus conflitos
Questiono os limites de uma vida
E percebo que na verdade eu sou o meu maior obstáculo

Tenho total poder sobre a âncora do barco de minha vida
Sou eu quem decido os destinos e os caminhos
E mais ainda sou eu que decido como navegar

Ao mesmo tempo que me puno me protejo
Ao mesmo tempo que me procuro me perco
Ao mesmo tempo que me amo me odeio

É tudo tão constante e ao mesmo tempo inconstante
É tudo tão intenso e ao mesmo tempo superficial
O certo se torna incerto e o errado se torna viável

O tudo se torna mais completo do que o nada
O imperfeito se torna mais belo que o perfeito
E o infinito cada vez mais utópico

Dentro de mim conheço bosques e florestas sombrias
Vivencio dias ensolarados e tempestades avassaladoras
E mesmo no meu pô do sol tem um pouco de escuridão

Tenho total controle sobre a âncora da minha vida
Posso escolher quando parar ou navegar mais lentamente
Porém não posso prever os riscos da navegação

Sou meu fiel aliado e ao mesmo tempo meu pior inimigo
Fugo de mim mesmo e mostro o meu esconderijo
Me acalmo, me irrito, me consolo e me bato

E mesmo na calmaria dos meus lagos internos
Eu consigo promover as mais avassaladoras perturbações
E despertar os mais obscuros medos da minha alma

Me ajudo a enfrenta-los e me alegro quando os venço
E mesmo nas oscilações e complexidades do meu existir
Eu consigo acessar os maiores aprendizados

Sou âncora, sou barco, sou luz, sou escuridão
Sou forte, sou fraco, sou água, sou chão
Sou frio, sou quente, sou mente, sou coração...

Sou o nada de um tudo incerto
Sou o tudo de um nada inconstante
Sou autor de minha própria jornada, protagonista e coadjuvante!

(Enildo Duarte)